"Deus abençoou Noé e seus filhos, dizendo-lhes: "Sejam férteis, multipliquem-se e encham a terra. Todos os animais da terra tremerão de medo diante de vocês: os animais selvagens, as aves do céu, as criaturas que se movem rente ao chão e os peixes do mar; eles estão entregues em suas mãos. Tudo o que vive e se move lhes servirá de alimento. Assim como lhes dei os vegetais, agora lhes dou todas as coisas". (Gênesis 9:1-3)
A maneira que Martinho Lutero interpreta Gen 9:3 é muito interessante. Primeiro ele coloca a questão:
"Deus concedeu ao homem usar também dos animais impuros como comida?"
Ele responde:
"Certamente há alguns que pensam que no tempo de Noé os seres humanos fizeram uso de todos os animais sem distinção, tanto o puro quanto o impuro, para comida. Entretanto, para mim, o oposto parece ser a verdade. Como a diferença foi feita anteriormente entre o puro e impuro e isso é mais tarde cuidadosamente mantido na Lei, eu acredito que, no que diz respeito a comida, o homem fez uso somente dos animais puros, isto é, daqueles que eram oferecidos nos sacrifícios. Por isso a declaração geral deve ser compreendida com uma estipulação: 'Tudo o que vive [a saber, entre os puros] lhes servirá de alimento' "[1]
Ele explica que nossa natureza aborrece animais impuros como serpentes, lobos, corvos e ratos. [2] Como não era mais pecado matar um animal para se alimentar dele, havia um perigo daqueles homens abusarem dessa liberdade. Portanto a seguinte proibição foi adicionada: "Ele [Deus] não quer que eles comam qualquer carne a não ser aquelea que primeiro tiver sido limpa de seu sangue" [3] A exposição de Lutero das leis de comida/animais puros e impuros pode ser encontrada em suas Leituras sobre Deuteronômio. ele tem dois tipos de explanação: a primeira é literal e a segunda, simbólica.
"É provável que todos esses animais sejam literalmente impuros, isto é, prejudiciais e inadequados como comida para o corpo humano" [4]
Assim essas leis dietéticas são relacionadas a saúde e são vistas por Lutero como um sinal de distinção, e como uma prevenção contra corrupção. Elas tomam uma função didática por ensinar o povo de Israel a auto-disciplina. [5] Além do sentido literal, Lutero fala extensivamente sobre o significado simbólico ou alegórico. Ele seguiu aqui a antiga tradição judaico-cristã, mas implementou ela na sua própria disputa entre a justiça pela fé e a justiça pelas obras. Por exemplo, ele ensina que "a impureza dos animais significa a doutrina das obras" e diferentes tipos de impureza são "mestres ímpios" [6].
[1] Martin Luther, Lectures on Genesis: Chapters 6-14, Luther's Works, ed. Jaroslav Pelikan, no. 2 (Saint Louis: Concordia Publishing House, 1960), 134-135.
[2] Ibid., 135.[3] Ibid., 137.
[4] Martin Luther, Lectures on Deuteronomy, Luther's Works, ed. Hilton C. Oswald,
no. 28 (Saint Louis: Concordia Publishing House, 1973), 134.
[5] Ibid.
[6] Ibid., 135.
Fonte: Jirí Moskala, The Laws of Clean and Unclean Animals in Leviticus 11: Their Nature,
Theology, and Rationale (An Intertextual Study), ATS Dissertation Series, vol. 4 (Berrien
Springs, MI: Adventist Theological Society, 2000), pgs 64-66 (pgs 87-89 na versão em pdf)
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