quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Interpretação de "Eu Não Nego Que Deus Elegeu Incondicionalmente" de John Wesley



Muitas pessoas defendem que João Wesley teria mudado de opinião em relação a sua declaração:


"E eu não nego (embora não possa provar isso)

*Que Ele incondicionalmente elegeu algumas pessoas, por isso eminentemente denominados “os eleitos”, para a glória eterna".[1]


Entretanto eu tenho motivos para crer que ele não mudou em relação a esse ponto. Sei que ele teceu críticas posteriores à eleição incondicional, mas na minha opinião elas são críticas à específica doutrina de eleição incondicional calvinista, semelhantes a outra feitas antes dessa declaração, e não à eleição incondicional de uma forma geral. Exponho a seguir a razão pela qual penso dessa forma.


Por volta de 1776 o calvinista Richard Hill escreveu uma obra chamada "A Review of All Mr. Wesley Doctrine's" (Um Exame de Todas as Doutrinas do Senhor Wesley) [2] onde ele acusa John Wesley por inconsistências em suas afirmações, sendo uma delas a "eu creio em eleição incondicional". Em resposta John Wesley escreveu "Some Remarks on Mr Hill's 'Review of All Doctrines Taught by Mr John Wesley"[3]. Nessa obra Wesley começa se posicionando:

"Porque eu não creio no que ele nomeia de 'as verdades de Deus', [isto é], a doutrina da absoluta predestinaçãoEu nunca acreditei nela, nem nas doutrinas associadas com ela, nem por uma hora. Nisto, ao menos, eu tenho sido consistente comigo mesmo. Eu nunca variei sobre isso nem um fio de cabelo"

E um pouco mais a frente:

(3) Eu não creio (no que é apenas preterição ou reprovação em outras palavras) em algo como eleição absoluta, que implica que todos a não ser os absolutamente eleitos inevitavelmente serão condenados"

O que quer que você possa pensar do significado da declaração de Wesley, parece ser claro que ele diz com todas as letras que não mudou de opinião sobre o assunto.  Mas se ele nunca creu numa eleição absoluta, então como pode ter dito que não negava a eleição incondicional? Suas critícas posteriores, na verdade, apenas são uma ratificação de sua negação de uma específica doutrina de eleição.  Sua declaração, a meu ver, deve ser entendida não como uma crença pessoal, mas como uma não rejeição da doutrina vista de uma forma geral. Como Thomas Oden coloca:

"Wesley não negou cada concebível noção de predestinação, mas somente aquela visão hiper-agostiniana temperada pelo concílio de Orange"[3]

Sobre Perseverança dos Santos ele também inicia se posicionando:


"(4)Eu não creio nas doutrinas da graça irresístivel ou de perseverança infálivel, porque tanto uma tanto a outra implicam naquela eleição que não pode permanecer sem preterição e reprovação.


Entretanto isso não significa uma total rejeição da doutrina da perseverança dos santos, ou uma mudança de opinião. Sobre sua declaração anterior "*Que há um estado atingível nesta vida, da qual um homem não podem finalmente cair", ele esclarece:


"Mas eu nunca pensei que um bebê em Cristo estivesse nesse estado, embora ele seja um crente verdadeiro"

Sobre a outra declaração anterior "*E eu não nego, que todos aqueles eminentemente denominados “os eleitos” irão perseverar até o fim", ele também esclarece:



"[Por isso] eu quero dizer aqueles que são 'perfeitos em amor' (1 João 4:17)"


Notas: 

As ressaltações em negrito são adicionadas por esse blog. As traduções são de minha autoria.

[1] http://blogdoemersoncampos.blogspot.com.br/2016/10/john-wesley-eu-nao-nego-que-deus-elegeu.html#more




[4] Thomas C Oden. John Wesley's Teachings, Volume 2: Christ and Salvation. Kindle Edition.  Posição 4370

Sem comentários:

Enviar um comentário